Por volta de 1600, a cultura europeia gerou um novo estilo artístico, conhecido como barroco. A tradução literal do termo barroco significa “irregular”, que demonstra que o estilo era considerado indisciplinado para os padrões do século XVII.
Mais tarde, o barroco se tornaria popular entre as cortes reais, simbolizando o poder emergente e grandioso dos novos monarcas. Esse estilo influenciou a pintura, a arquitetura e até a música da época.
Neste post, você verá os assuntos mais importantes, como o contexto histórico, além dos símbolos, características e estilos da literatura barroca. Quer saber mais sobre esse importante tipo de literatura para ser um escritor melhor? Continue a leitura e saiba mais!
O contexto do início do século XVII
O cenário era de crise política, econômica, social e religiosa. Lutero sacudiu as bases da igreja católica na Alemanha, e Calvino fez o mesmo na França. O Brasil, a princípio, não dava o lucro que Portugal esperava, e as grandes navegações começaram o seu declínio. Resumindo: os valores renascentistas ficaram em baixa, dando espaço para uma nova proposta.
O simbolismo
Diante da grande crise, o homem é obrigado a refletir. Com a reflexão, vem o conflito. O corpo e a alma, o homem e Deus, o antropocentrismo e o teocentrismo, o bem e o mal, o claro e o escuro, e mais uma série de dúvidas povoavam a imaginação das pessoas.
Na dúvida, dois estilos
Podemos separar a literatura barroca em dois estilos:
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Barroco Cultismo: uso da linguagem culta e muito ligado à forma. Tem como maior influenciador o poeta espanhol Luis de Góngora;
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Barroco Conceptismo: uso do raciocínio lógico e muito ligado ao conteúdo. Tem como maior influenciador o também poeta espanhol Francisco Quevedo.
Características
As principais características da literatura barroca são: pessimismo (do pó veio, ao pó voltarás), religiosidade (o homem pecador em busca da salvação), particularismo (o que é nacional possui mais valor), feísmo (o horrível pode ser belo), entre outras. Vale ressaltar que a literatura barroca usava e abusava de figuras de linguagem, metáforas, elipses, antíteses, paradoxos e hipérboles.
Além disso, esse estilo de literatura conta com características como fugacidade, conflito entre o corpo e a alma, rebuscamento da linguagem e moralismo. Veja como isso funciona!
Fugacidade
A fugacidade é uma concepção barroca que acredita que todas as coisas no mundo são instáveis e passageiras. Ou seja, tudo quanto se conhece no mundo muda, bem como as pessoas.
Contrastes
Pode-se dizer que o Barroco é uma arte de contraste e conflito. Expressa os diversos contrastes que regulam a experiência e existência humana, como: corpo x alma; vida x morte; fé x razão; Deus x Diabo. É possível ver esses contrastes nas produções barrocas, usando o jogo, palavras, conceitos e contrastes de imagens. Entretanto, os artistas não desejam apenas mostrar os contraditórios, mas também trazer conciliação.
Rebuscamento da linguagem
A linguagem barroca é rebuscada e extremamente trabalhada. Utiliza diversos recursos de estilo, além de trabalhar com figuras de linguagem, hipérboles, antíteses, paradoxos e metáforas.
Moralismo
Como era utilizada por padres jesuítas com o intuito de pregar a religião e a fé cristã, a literatura é apresentada de forma moralista.
O Barroco no Brasil
Logo em 1601, o escritor Bento Teixeira publica a épica Prosopopeia.
Trecho de Prosopopeia:
A Lâmpada do Sol tinha encuberto,
Ao Mundo, sua luz serena e pura,
E a irmã dos três nomes descuberto
A sua tersa e circular figura.
Lá do portal de Dite, sempre aberto,
Tinha chegado, com a noite escura,
Morfeu, que com subtis e lentos passos
Atar vem dos mortais os membros lassos.
Outro autor que ficou marcado no barroco nacional foi Gregório de Matos, o famoso Boca do Inferno.
Trecho de Triste Bahia:
Triste Bahia!
Ó quão dessemelhante
Estás e estou do nosso antigo estado!
Pobre te vejo a ti, tu a mi abundante.
O advogado e poeta barroco Manuel Botelho de Oliveira foi o primeiro autor nascido em solo brasileiro a publicar um livro.
Trecho de A Vida Solitária:
Que doce vida, que gentil ventura,
Que bem suave, que descanso eterno,
Da paz armado, livre do governo,
Se logra alegre, firme se assegura!
Frei Vicente de Salvador foi um historiador, cronista e religioso baiano. Ele exerceu cargos de cônego, governador do bispado do estado e vigário-geral. Uma das suas obras mais conhecidas é a “História do Brasil” que foi dividida em cinco livros e narra a forma de vida na colônia, mostrando momentos interessantes dos primeiros governadores, além de registrar anedotas e a forma de falar e viver em um lugar ainda novo.
Trecho de História do Brasil:
Inopem me copia facit, disse o poeta, e disse verdade, porque, onde as coisas são muitas, é forçado que se percam, como acontece ao que vindima a vinha fértil e abundante de fruto, que sempre lhe ficam muitos cachos de rabisco e assim me há sucedido com as coisas de mar e terra do Brasil de que trato. Pelo que me é necessário rabiscar ainda algumas, que farei neste capítulo, que quanto a todas é impossível relatá-las.
Faz no Brasil sal não só em salinas artificiais, mas em outras naturais, como no Cabo Frio e além do Rio Grande, onde se acha coalhado em grandes pedras muito e muito alvas.
Faz-se também muita cal, assim de pedra do mar como da terra, e de cascas de ostras que o gentio antigamente comia e se acham hoje montes delas cobertos de arvoredos, donde se tira e se coze engradada entre madeira com muita facilidade.
Há tucum, que são umas folhas quase de dois palmos de comprido, donde, só com a mão, sem outro artifício, se tira pita rijíssima, e cada folha dá uma estriga.
Frei Manuel da Santa Maria de Itaparica foi um poeta barroco brasileiro e um frade franciscano. Embora não se conheça muito da sua vida, sabe-se que foi professor na Ordem dos Frades Menores e, depois, dedicou-se à pregação. O frade foi influenciado por Camões e foi autor de “Eustáquios”, um poema sacro e que descreve o inferno e a ilha de Itaparica, termo usado em referência à cidade da Bahia.
Trecho de Eustáquios
Em o Brasil, Província desejada
Pelo metal luzente, que em si cria,
Que antigamente descoberta e achada
Foi de Cabral, que os mares discorria,
Perto donde está hoje situada
A opulenta e ilustríssima Bahia,
Jaz a ilha chamada Itaparica,
A qual no nome tem também ser rica.
Está posta bem defronte da Cidade,
Só três léguas distante e os moradores
Daquela a esta vêm com brevidade,
Se não faltam do Zéfiro os favores;
E ainda quando com ferocidade
Éolo está mostrando os seus rigores,
Para a Côrte navegam, sem que cessem,
E parece que os ventos lhe obedecem.
Agora que você sabe mais sobre literatura barroca, está pronto para dar um próximo passo. Escolha um bom autor e comece a ler. Dessa forma, será mais fácil para você escrever, ainda que seja um romance moderno. Mesmo os autores atuais bebem das fontes antigas. Por isso, não despreze a leitura de grandes obras.
Você já leu algum desses livros? O que achou? Comente agora mesmo este post e conte um pouco mais sobre sua experiência de leitura! Esperamos por você!