Passo a passo: como escrever um livro do zero?

Escrever um livro não é uma tarefa fácil. É preciso determinação para dar início, continuidade e finalização a uma obra literária e, embora haja algumas orientações que você pode seguir para nortear o seu trabalho, não há uma fórmula infalível para escrever um texto de sucesso. Mas isso não quer dizer que não você não possa tentar!

Para ajudá-lo a tirar as ideias da cabeça e conseguir transcrevê-las no papel, reunimos algumas dicas sobre como escrever um livro e organizar essa empreitada tão árdua, porém maravilhosa. Acompanhe:

Defina o seu gênero literário

Mesmo que você se interesse por diversos gêneros diferentes, é interessante decidir em qual deles deseja se especializar antes mesmo de pensar em começar um livro. Por isso, é importante entender as convenções e a estrutura de qualquer tipo de história que você possa querer escrever.

Ler livros, textos e rascunhos de gêneros distintos é uma prática que vai enriquecer o seu repertório técnico e linguístico, mas não se desespere. Você não precisa saber tudo.

Apenas escolha aqueles gêneros literários com os quais você mais se identifica (ou se sente próximo), conheça-os bem e comece a investir no aperfeiçoamento das suas habilidades como escritor.

Encontrar o seu estilo preferido costuma ser uma das primeiras recomendações para quem quer aprender como escrever um livro. Porém, não é necessário ter esse compromisso em mente se você já sabe exatamente sobre o que redigir. Nesse caso, preocupe-se com as ideias para depois saber como classificá-las.

Não se desespere no começo

Começar a escrever pode ser mais trabalhoso do que publicar a obra pronta, mas não desanime. Essa dificuldade se deve ao alto nível de ansiedade dos escritores iniciantes, que começam o seu trabalho focando a atenção em todo o processo de escrita em vez de adotar um passo de cada vez.

O 1º deles é decidir o assunto da sua obra. Bons livros sempre trabalham assuntos de forma única, com o objetivo de torná-los relevantes para o leitor. Para definir como vai fazer isso, faça o exercício de escrever (ou digitar) o resumo de sua história ou conteúdo em apenas uma frase.

Em seguida, transforme esse assunto em um parágrafo, e depois, em um esboço de uma página. Aproveite para pensar na construção do seu livro dividida em “início, meio e fim”. Qualquer estrutura mais complicada pode fazer você se sentir perdido.

Uma vez que você começar a escrever, pode ser que se depare com várias dúvidas e “síndromes do papel em branco”. Entenda que tudo isso é natural e faz parte do processo. Por isso, trabalhe com calma. Assim, você vai aproveitar melhor a sua capacidade mental e turbinar a sua produtividade.

Trabalhe com a sua inspiração (mas nem tanto)

Há muitas definições para a palavra “inspiração” na literatura e na filosofia, mas podemos dizer que é uma fagulha de genialidade e a força motriz da criação artística, o momento sublime em que a ideia e o trabalho se encaixam perfeitamente.

Sendo assim, a inspiração é algo muito importante para qualquer artista, inclusive escritores. Porém, ela também é rara. A maior parte do trabalho de escrever um livro é na transpiração, ou seja, no esforço constante de escrita.

É ótimo trabalhar com sua inspiração, mas, para escrever um livro, é importante entender que também é preciso saber se virar sem ela. Aliás, na maior parte do tempo, o escritor não poderá se dar ao luxo de esperar a sua aparição.

Portanto, não conte com a inspiração o tempo todo. Apenas sente na frente do computador (ou com seu caderno e caneta à mão) e escreva. E não se preocupe em produzir um texto perfeito de 1ª, pois isso nunca é possível. Abuse dos rascunhos e vá lapidando o quanto achar necessário.

Crie um conceito (mas seja flexível)

Escrever não é difícil — tanto que milhares de estudantes, roteiristas, jornalistas e redatores podem realizar essa tarefa com maestria. Mas ser capaz de envolver a sua cabeça em torno de uma grande ideia e saber como apresentá-la da maneira certa para o leitor pode ser um verdadeiro desafio.

É por esse motivo que toda história possui um conceito, uma premissa sobre a qual é construída. Harry Potter, de J.K. Rowling, trata de um mundo mágico: bruxos escondidos do mundo trouxa e uma criança predestinada. Cem Anos de Solidão, de Gabriel García Márquez, conta a longa história da família Buendía, em Macondo.

Um conceito é o cerne fundamental da história, que poderá guiar decisões durante a escrita. No entanto, é importante saber que, ao longo do processo de escrever um livro, esse conceito pode sofrer algumas alterações. Por isso, ser flexível é igualmente importante.

Monte um planejamento

Depender somente dos seus desejos e da sua força de vontade para começar a escrever o seu livro pode fazer com que você procrastine o seu trabalho, além de ter muitas dificuldades para começar a redigir as primeiras linhas do seu material.

Por esse motivo, montar um planejamento da história é um passo muito importante. Esse é o esqueleto e a base da trama do livro com os principais eventos e as guinadas na história. É a forma de ver o todo do livro, com seu começo, meio e fim, os arcos de evolução das personagens e as surpresas reservadas ao leitor. Planejar o seu livro dá mais segurança na hora de escrever.

Mas, se a inspiração acontecer e algo tiver que ser mudado, acrescentado ou retirado, esteja disposto a refazer todo o seu trabalho de planejamento. Faça isso de maneira consciente e pondere antes, mas tenha abertura para isso.

Pense na construção dos seus personagens

Se o seu livro contém uma história de ficção, você vai precisar dedicar tempo para a criação dos seus personagens. Afinal, como escrever um livro sem trabalhar a personalidade e a complexidade do seu protagonista?

Uma dica é começar a desenvolver as características psicológicas antes das físicas e a contextualizar a personalidade da sua criação com a narrativa, já que é isso que fará a diferença na construção da história.

Outra sugestão é evitar a elaboração de personagens demais, já que os leitores poderão ter dificuldades para distingui-los e assimilar as características de cada um. Por isso, sempre que um personagem novo aparecer, mostre como ele é único e fortaleça a sua imagem na mente do leitor.

Faça um bom trabalho e o resultado será uma história marcada por personagens tão memoráveis que permanecerão presentes na mente do leitor pelo resto de sua vida, como Harry Potter, Sherlock Holmes ou o Pequeno Príncipe.

Coloque a mão na massa

Agora que você já tem uma definição mais consistente do seu roteiro e dos seus personagens, vamos ao que interessa: a escrita da sua história.

Você pode utilizar os seus rascunhos para começar a criar o enredo, ainda que em forma de esboço. Não é necessário se prender na escolha exata de cada palavra, esse é apenas o 1º rascunho, no qual você descobre a história sozinho. É possível lapidar melhor a sua escrita depois.

Durante esse processo, você provavelmente encontrará personagens e acontecimentos tomando direções que nem imaginava antes. As definições e os conceitos de cada capítulo do seu planejamento podem ser descartados para dar lugar a ideias novas, na medida em que você realiza experimentações com personagens, cenários, estilos e explora novas abordagens para o seu trabalho.

Esse é o momento certo para você pensar fora da caixa e se soltar criativamente. Não se preocupe com a perfeição: quanto mais ideias forem materializadas na sua história, melhor.

Eventualmente, essa coletânea bruta de pensamentos tomará forma para se tornar uma narrativa completa e compreensível após a devida edição e um punhado de ajustes. Por enquanto, concentre-se apenas em transferir tudo o que está na sua cabeça para o papel.

Seja um observador

O 1º conselho a se dar para alguém que pergunta como escrever um livro deveria ser: exercite e apure seu olhar. Escritores são observadores por natureza. Afinal, diferentemente do cinema e TV, os livros não são um veículo visual para se contar histórias. Por isso a escrita descritiva é a única forma de montar imagens na cabeça do leitor.

Sendo assim, o trabalho do escritor consiste em extrair informações do cotidiano e em elaborar as suas criações a partir delas. Tudo o que acontece na vida de qualquer um pode ser transformado em uma história a se compartilhar — seja um recomeço, um relacionamento e, por que não, uma obra literária?

Escrever é, resumidamente, comunicar uma parte da sua experiência humana aos leitores, seja ela uma luta emocional, uma rotina comum ou até mesmo uma válvula de escape da realidade. Resumindo: escrever é ter algo para contar. De onde você vai tirar o seu “algo”?

O ponto aqui é: a sua vida deve alimentar o seu trabalho. Caso contrário, você terá mais dificuldade para se conectar com o seu público e desenvolver os detalhes da sua narrativa. Use o que acontece com você. Seja bom ou ruim, tudo é material para o seu livro.

Pense em escrever sobre o que você sabe, sente, experimenta ou imagina. Escreva o que só você pode escrever, e não somente o que você acha que outras pessoas querem ler.

Tenha uma rotina (mas seja espontâneo)

Livros não são fáceis de escrever, e por isso é necessário ter comprometimento com essa tarefa. Ter uma rotina de escrita é essencial para redigir um livro e, ao organizar a sua, tenha certeza que vai estabelecer metas realistas.

A menos que você seja um escritor profissional, é pouco provável que vá escrever 30 páginas por dia. Afinal, até Stephen King, mestre da literatura de horror, escreve 2 mil palavras por dia, o equivalente a 3 páginas.

Estabeleça um nível mínimo de produtividade — seja em tempo, páginas ou palavras — podendo ser diário, semanal ou mensal, e faça o possível para segui-lo. O importante aqui é “quebrar” a missão de escrever um livro em outras tarefas menores, com mais detalhes definidos e, de preferência, com datas de entrega marcadas.

Mas, quando tiver vontade de escrever, escreva. E saiba que imprevistos acontecem. Portanto, não acumule metas para os próximos dias.

Faça uma boa revisão

O maior problema dos escritores de 1ª viagem é não entender a importância da revisão. Dentro de qualquer processo de produção de texto, pequenos erros de ortografia, semântica e digitação são comuns, até mesmo nas mãos dos profissionais mais experientes.

Ernest Hemingway dizia que todo 1º rascunho é ruim. Revisar é saber melhorar mais e mais o trabalho, construir sentenças melhores, tornar o texto mais limpo, adequá-lo ao seu estilo e, claro, consertar erros. Para fazer todo esse processo mais fácil, lembre-se das seguintes dicas:

Não exagere no uso de advérbios

Muitos advérbios denunciam uma escrita preguiçosa, porque reduzem em uma simples palavra o que deve ser transmitido e descrito detalhadamente pelo contexto. Em vez de dizer “Pedro entrou em casa rapidamente quando Ana chegou”, por exemplo, tente ser mais descritivo, usando as palavras: “Pedro correu para dentro de casa assim que ouviu Ana chegar”.

Enxugue o seu texto

Livre-se das passagens que falam demais e não chegam a lugar nenhum. Para manter o seu texto interessante e objetivo, procure retirar as palavras que não são absolutamente cruciais para a história. Uma boa revisão geralmente elimina pelo menos 25% do tamanho do texto original.

Use muitos sinônimos

Não há nada pior do que a repetição excessiva e desnecessária de palavras iguais. Para não abordar sempre os mesmos termos, é interessante manter um dicionário em mãos enquanto escreve. Dessa forma, o texto não fica cansativo, já que os sinônimos geralmente ocupam o lugar daquela palavra que você precisa substituir.

Não faça tudo sozinho

A revisão é uma das partes mais importantes do trabalho de escritor. Portanto, considere contratar um ou mais profissionais especializados. Por mais que você seja bom em realizar essa tarefa sozinho, a ajuda de um editor ou de um amigo vai fornecer outro olhar para editar os seus livros da forma correta.

Se possível, não faça apenas 1 revisão. Ao terminar a redação de seu livro, releia todo o material logo em seguida, buscando melhorar frases que ficaram confusas, desenvolver algumas abordagens e reparar erros. Depois disso, revise o trabalho de novo e peça o auxílio de outra pessoa para realizar a mesma tarefa novamente.

Guarde a sua energia para a pós-produção

Depois de ter toda a sua obra escrita, você acha que a parte mais difícil do trabalho acabou, não é mesmo? Grande engano!

A pós-produção é tão complexa e importante quanto todo o processo de escrita em si. Não se trata apenas da revisão: é nessa hora que a reescrita, os ajustes finais, os procedimentos que antecedem o envio para a gráfica e a publicação do seu livro acontecem.

Se tiver a sorte de ter uma editora trabalhando por você, muitas delas farão modificações para adequar o livro no ponto de vista comercial, tendo em vista as preferências do público para o qual aquele material é destinado.

Por outro lado, se está trabalhando por conta própria, terá de apostar em um caminho mais árduo: a autopublicação. Nesse caso, vale a pena contratar profissionais independentes para obter ajuda na finalização de arte da capa, diagramação, edição etc.

Esteja preparado para os desafios

A maioria dos livros escritos nunca são terminados justamente porque essa não é uma tarefa nada simples. Muitos problemas e desafios aguardam os escritores veteranos e iniciantes nessa jornada. Os principais deles são:

Estresse e ansiedade

A maior razão pela qual os escritores se sentem estagnados em seu trabalho, sem conseguir progredir, é que esse tempo de improdutividade atua como um alívio temporário contra o estresse (ou a ansiedade de ver o trabalho pronto).

Se você se forçar a trabalhar constantemente sobre o seu livro inacabado apenas para cumprir o seu cronograma, acabará com um trabalho de má qualidade ou até mesmo com o descumprimento dos prazos de cada tarefa. Em vez disso, faça algumas pausas para se livrar da tensão e descansar.

Distrações e procrastinação

Manter o foco é extremamente necessário para escrever um livro. Se esse não é o seu ponto forte, procure aplicativos de produtividade on-line para impedir que as redes sociais, e-mails e notícias não retirem a atenção do seu trabalho.

Outra dica é procurar lugares diferentes para escrever, como cafés, livrarias ou locais onde as demais pessoas também buscam trabalhar. Se você estiver em um local onde todos estão resolvendo os seus próprios problemas em vez de socializar, você não terá outra escolha que não seja se juntar a eles.

Alto custo para publicação

As grandes editoras provavelmente não cobrarão um preço amigável para divulgar o seu trabalho, embora prometam resultados compensadores. Felizmente, publicar um livro não é tão difícil nos dias de hoje. Várias opções como a autopublicação, editoras independentes ou a publicação on-line prometem fazer seu material circular por preços razoáveis ou até mesmo de graça.

Falta de espontaneidade

Tentar manter o foco na originalidade o tempo todo pode ser uma ideia destrutiva, que vai pesar todo o seu processo de criação. Em vez de se preocupar em redigir algo inovador, que ninguém nunca leu antes, preste atenção nos seus modelos (ou escritores que te inspiram) e não tente abandoná-los logo de cara.

Criar um estilo que é só seu é uma conquista requer tempo e muita experiência. De texto em texto, leitura em leitura, você encontrará uma forma única de elaborar e compartilhar as suas ideias com o mundo.

Dificuldades criativas

Sem criatividade, não há ideias. E sem ideias, não há história, certo? Para que o bloqueio criativo não seja um obstáculo na hora de escrever, procure sair de casa (ou escritório) mais vezes, leia constantemente, organize o conteúdo que criou e faça uma lista de tarefas que te inspiram para colocar em prática. O importante é sair da rotina para manter as ideias frescas fluindo.

Com certeza há muitos outros passos que você precisa seguir no árduo caminho para produzir uma obra literária, mas, com essas orientações básicas sobre como escrever um livro, você já terá uma base sólida para iniciar o seu trabalho com confiança e produtividade.

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