Leila Salles lança obra sobre mulheres da baixada fluminense

A autora Leila Salles atualmente trabalha na Fundação Fundo Brasil de Direitos Humanos. É pesquisadora do Observatório dos Conflitos Urbanos do Extremo sul e Leste do Uruguai pela Universidade Federal de Rio Grande-FURG (RS), integra a Rede Brasileira de Justiça Ambiental (RBJA) e o Fórum dos Atingidos do Petróleo na Baía de Guanabara – (FAPP-BG), no Rio de Janeiro e agora lança sua obra “Mulheres da Baixada Fluminense (RJ) – Caminhos de uma Educação para a justiça ambiental”.

No livro, Leila aborda realidade da sociedade brasileira, pautada nas práticas exploratórias, racistas, patriarcais, classistas, machistas, homofóbicas, misóginas entre outras que tem como pacto a exclusão da maioria da população trabalhadora, o genocídio da juventude negra, o feminicídio, o apagamento das religiões de matrizes africanas, o Asè. 

Na obra, a autora reforça que caso é relacionado ao conflito socioambiental com a Petrobrás-REDUC e o estudo parte da perspectiva da Educação Popular e Solidária e da problematização do uso da educação pela empresa para eludir de sua responsabilidade de contaminar as águas e outros impactos causados. 

Em entrevista ao Blog Autografia, Leila conta mais sobre sua trajetória e sobre o tema do livro: “Sou brasileira, nascida no chão da Baixada Fluminense em Duque de Caxias-RJ, no outono de 1967. Filha de família interracial: pai – Valdemiro Costa, brasileiro, branco, filho de pai e mãe portugueses, nascido em Muqui-ES, já falecidos e, mãe – Neuza Salles, brasileira, afro-indígena, filha de pai afro-brasileiro e mãe indígena-nativa, nascida em Cachoeiro de Itapemirim – região sul do Espírito Santo, já falecidos”.

“Militante-ativista, raiz dos Direitos Humanos por direito à terra e moradia e em defesa de mulheres negras em situação de violações e violências desde a formação das CEBES em 1978. Divorciada. Mãe-solo de uma filha. Avó de um neto.  Me autodeclaro uma mulher preta, de pele não retinta e cabeleira crespa, professora-ativista”.

“Estudei o Ensino Fundamental e Médio (formação de professores) em escola particular no período da Ditadura Militar: 1974-1985, única escola do bairro, o Educandário Maria Tenório. Trabalhei na mesma escola sem direitos trabalhistas antes mesmo da conclusão do curso, passando a receber metade do salário-mínimo vigente”.

“Fui obrigada a deixar a profissão de professora do Ensino Fundamental para buscar um melhor salário maior e contribuir na renda de das irmãs menores para estudar e alimentar, uma vez que o pai infartou, ficando impossibilitado de exercer a profissão de garçom”.

“Trabalhei em diversas funções administrativas-financeiras em uma transportadora, trabalhei no Jornal do Brasil, e, também em instituições financeiras. Em 2005, aos quase 38 anos decidi voltar a estudar, fiz o vestibular e passei em 9º lugar para o curso de Licenciatura em Ciências Sociais em uma faculdade particular, no período noturno”.

“Graduei em 2007 e com isso pude retornar para a área da educação e voltar a dar aulas. Coordenadora do Curso Mulheres e Economia, no Instituto PACS 2007-2011 trabalhando na perspectiva de uma Educação Popular e Solidária. Especialista em Ciências Sociais e Religiões. Mestrado em Educação Ambiental na FURG, através da Política de Cotas, 2015-2017”.

“Atualmente trabalho na Fundação Fundo Brasil de Direitos Humanos. Sou pesquisadora do Observatório dos Conflitos Urbanos do Extremo Sul e Leste do Uruguai pela Universidade Federal de Rio Grande-FURG (RS), integro a Rede Brasileira de Justiça Ambiental (RBJA) e o Fórum dos Atingidos do Petróleo na Baía de Guanabara – (FAPP-BG), no Rio de Janeiro”.

“A obra retrata a realidade da sociedade brasileira, pautada nas práticas exploratórias, racistas, patriarcais, classistas, machistas, homofóbicas, misóginas entre outras que tem como pacto a exclusão da maioria da população trabalhadora, o genocídio da juventude negra, o feminicídio, o apagamento das religiões de Matrizes Africanas, o Asè”.

“Estas afirmativas não são só minhas! São as diversas pesquisas, as estatísticas, os números que declaram que é esta população, a quem de uma parte delas e com elas realizamos a pesquisa em referência, a saber as mulheres das periferias urbanas do município de Duque de Caxias (RJ), são seres humanas que contribuem sobremaneira na construção do desenvolvimento global, não apenas do Brasil e, desta mesma população lhe são retirados os direitos básicos à educação, saúde, saneamento básico, lazer”.

“O caso é relacionado ao conflito socioambiental com a Petrobrás-REDUC e o estudo parte da perspectiva da Educação Popular e Solidária e da problematização do uso da educação pela empresa para eludir de sua responsabilidade de contaminar as águas e outros impactos causados”.

“Deste fato, emergiram as contradições do dito pela REDUC/Petrobras com o vivido pela população da Baixada Fluminense conforme observações, falas e injustiças confirmadas pelo Grupo de Trabalho das Mulheres do FAPP-BG”.

“Neste contexto acredito que a  dissertação relatada neste livro, contribui para visibilizar as mulheres atingidas que realizam uma educação ambiental através de práticas que consideram mais justas às realidades cotidianas de todas e todes as mulheres que residem em regiões consideradas “ Zonas de Sacrifício” – conceituado no livro – , instituídas através do racismo ambiental que se estrutura no seio da sociedade capitalista, garantindo a lógica da exploração dos recursos naturais, como a ‘água” – um direito humano -, e alija a população dos direitos fundamentais instituídos na Constituição Brasileira de 1988”.

“Apresenta as práticas da educação para a justiça ambiental realizada pelas Mulheres da Baixada Fluminense (RJ) que atuam no Fórum dos Atingidos pela indústria do petróleo nas cercanias da Baía de Guanabara (FAPP-BG)”.

“Coloca em confronto os discursos da Petrobras-REDUC e as falas antagônicas das mulheres do GT-Mulheres do FAPP-BG com relaçãoa educação ambiental descrita no sítio eletrônico da Petrobras Socioambiental, dita como reparação aos danos socioambientais causados pelo refino de petróleo e seus derivados e as práticas de educação ambiental realizadas pelas mulheres do GT-Mulheres do FAPP-BG no cotidiano dos bairros onde residem que lutam por justiça ambiental”.  

“O livro é dividido em quatro capítulos. No primeiro capítulo disserto sobre os caminhos  trilhados no processo da pesquisa; no segundo capítulo, apresento um  abordagem sócio-histórica demonstrando a constituição da população e a caracterização das bases sociais da região, indicando as percepções do racismo e desigualdades ambientais – a passagem da Família Real no município de Duque de Caxias até a década de 2010  e as injustiças ambientais; no terceiro capítulo apresento um cenário de enfrentamentos e resistências nas cercanias da Baía de Guanabara – a justiça ambiental e a indústria do petróleo – vivências e resistências que levam a construção do FAPP-BG, apresentando as ações e posicionamentos políticos de enfrentamento ao modelo de desenvolvimento econômico atual, as causas e as consequências com a instalação da Refinaria Duque de Caxias – REDUC na década de 1960, no município de Duque de Caxias e, ainda os efeitos e os riscos os quais estão expostas a população e, disserto também, o contexto da criação e da constituição do GT-Mulheres do FAPP-BG no cenário dos impactos negativos gerados pela indústria do petróleo; no quarto capítulo apresento  a pesquisa-ação no campo, as oficinas formativas e a educação ambiental em conflito a partir das falas das mulheres do GT-Mulheres do FAPP-BG, os dados empíricos relatados e coletados através de oficinas de formação com as agentes da pesquisa e convidados sugeridos pelas mulheres participantes da pesquisa, Edilene Estevam e Tia Angélica, nos bairros de Parque Paulista e Parque Colonial, os dados documentais sobre impactos ambientais, o sítio eletrônico da REDUC/Petrobras, o relatório de sustentabilidade da PETROBRAS (2015), o Termo de Ajuste de Conduta (TAC-REDUC, 2011, e também os dados bibliográficos utilizados no decorrer do capítulo, necessários para sustentar as falas relatadas pelas mulheres entrevistadas e as falas coletadas nas oficinas formativas, no período de junho a novembro de 2016”.

A inspiração para Leila escrever o livro veio da luta cotidiana de sua mãe: “A grande inspiração do livro se inicia na luta cotidiana de minha mãe, Neuza Salles, que chega à Baixada Fluminense, Duque de Caxias no ano de 1965, que cultivava plantas medicinais, árvores frutíferas, criava galinhas para contribuir com alimentação saudável para a família, conservava a água potável e que a partir da década de 1980/1990 teve os lençóis freáticos da região contaminada levando a perda total da água para consumo, a perda das árvores frutíferas, como também as ervas medicinais”.

“A inspiração continua com o nascimento de minha filha Desirée Salles, nascida no ano de 1999 em Duque de Caxias, ao refletir: Qual o futuro posso oferecer para minha filha, diante da crise ambiental que estávamos vivenciando?”

“E, finalmente brota com força, a decisão de publicar o livro, com o nascimento do meu neto Baakir Salles no ano de 2020, com a confirmação da pandemia por COVID 19 – o ápice da crise ambiental, potencializando a minha decisão de publicar e lançar do livro na 26ª Bienal Internacional do livro em São Paulo”.

A autora ainda conta um pouquinho mais para nós sobre o processo de produção da obra: “Produzir este livro foi tão comprometedor e responsável quanto engravidar de minha filha. Toda a minha ancestralidade me levava a descrever, relatar, visibilizar os fatos e as ações vividas, vivenciadas pelas mulheres e por toda a população Caxiense.

“O compromisso com meus ancestrais que cuidaram e zelaram com todo o respeito e afeto da Pátria-Mãe, a Terra estava sendo destruída pelos grandes capitalistas, a responsabilidade com as futuras gerações em ter água e ar para também sobreviverem”.

“A produção deste livro é a escrevivência de uma carta para a humanidade, contada por uma menina-mulher que tem um pensamento-gerador de vidas, que acredita que o conhecimento sobre o passado contribuir sobremaneira para um futuro com menos injustiças ambientais para o mundo”.

“As tecituras do processo de escrita foi uma explosão de sentimentos como medo, dor, prazer, alegria, esperança. Provocou enfrentamentos, resistências, denúncias, audiências públicas, seminários, intercâmbios entre localidades contaminadas… Enfim muitas emoções. Não. Sou uma mulher preta que acredita, bota fé no processo coletivo e, neste sentido a pesquisa foi realizada com/para as mulheres do GT-Mulheres do FAPP-BG”.

Para Leila, publicar o livro traz imensa alegria e a satisfação da meta alcançada com muita fé e persistência: “É a sensação de compromisso realizado. É a de enfrentamento junto à perspectiva de uma educação ambiental que diante a todas as condições não permitidas ambientalmente não desistiram”.

“É a sensação de que temos que exigir intransigentemente nossos direitos concomitante às forças políticas para continuar as batalhas por justiça ambiental com toda a população desprovida de bens materiais, jurídicos, políticos, financeiros para que consigam ter mais acesso aos direitos constitucionais brasileiros garantidos de modo efetivo”.

“Que a obra seja lida e refletida como uma carta a humanidade, por estudantes, pesquisadores, educadores, a juventude, os idosos que seja um instrumento, uma ferramenta educacional acessada pelo público”.

“Que a obra seja referendada como fonte de despertamento para avanços em políticas públicas de saúde, educação, saneamento básico, transporte, lazer, entre outras.  Que a obra também seja um convite aos debates públicos no campo da justiça ambiental”.

“Que este livro seja fonte de inspiração às pesquisas e ações que reverberem as lutas das mulheres por justiça ambiental. Reflitam sobre a crise ambiental que estamos vivenciando e nas práticas superexploratórias que geram um potencial falecimento do nosso planeta Terra. Que comprem o livro, leiam, pesquisem, divulguem e questionem este tema que é prioridade global às emergências climáticas”.

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