Algumas pessoas trabalham melhor de manhã, outras, de noite. Tem quem goste de silêncio absoluto e quem não consiga escrever uma linha sem aquela música tocando no fone de ouvido ou som ambiente. Alguns terminam o primeiro esboço numa tacada só e outros não conseguem passar para o parágrafo seguinte sem retocar o anterior.
A escrita pode ter as suas idiossincrasias, mas uma coisa é certa: escrever é um ofício e exige rotina.
O planejamento leva você à fluência
Sabe quando você decide fazer uma viagem de última hora? Tudo pode acontecer: você pode comprar uma passagem aérea barata e acabar indo para um destino incrível ou sequer conseguir agendar um quarto de hotel! Escrever é como viajar. Quanto melhor você planejar o seu trajeto, menores serão os imprevistos (o que não exclui uma dose de emoções e boas surpresas pelo caminho).
Por mais que se romantize a noção de que um bom escritor é aquele que diante do papel ou do computador espontaneamente transforma magicamente suas ideias em palavras num fluxo contínuo de alta qualidade, não confie em seu gênio! Uma escrita assim pode ser muito terapêutica (ou traumática, no caso de bloqueios), mas dificilmente resulta num bom romance.
Existem diversas técnicas para auxiliar um escritor iniciante nessa jornada (como o método snowflake, criado por Randy Ingermanson). Mas, independente de como você decidir organizar seu trabalho, não deixe de criar um planejamento. Quanto mais tempo você se dedica a essa etapa, maior será sua fluência na escrita do primeiro rascunho.
A preparação do romance
A preparação de um romance, por ser um trabalho minucioso que exige coerência e atenção ao desenvolvimento de uma estrutura particular, demanda um planejamento ainda mais denso em comparação a outros projetos.
Criar uma narrativa longa solicita o delineamento dos traços psicológicos das personagens, do foco narrativo, das descrições, entre tantos outros elementos. Por isso, elaborar um roteiro inicial para sua escrita é fundamental para manter ao longo dessa jornada a coerência e o interesse de sua história.
Abaixo, você verá o que deve levar em conta em seu roteiro.
Subgênero
Romance histórico, policial, aventura, ficção científica,
fantasia, infantil, infanto-juvenil… o seu livro pertence a algum desses segmentos? Se a sua resposta for sim, saiba que cada subgênero tem um conjunto de obras clássicas e contemporâneas que devem ser estudadas.
Além de serem fontes de inspiração, a leitura desses livros pode ajudar você a definir quais estratégias narrativas mais agradam ao seu estilo e pensar em maneiras de contar a sua história.
Leia atentamente os livros pertencentes ao segmento escolhido e extraia o que há de melhor em cada obra. Além disso, é importante estar atento ao que os leitores desse subgênero esperam. Quem sabe você não consegue inovar com sua escrita e
tornar-se uma referência dentro da sua categoria?
Fio condutor
Defina o fio condutor da sua narrativa: o que vale a pena ser contado? Uma história, geralmente, tem em sua estrutura uma situação problema (clímax), seguida de uma solução que pode ser explorada ou modificada de acordo com sua técnica.
Tente entender qual o ritmo da sua narrativa antes de começar a escrever, assim, você já mergulha no trabalho sabendo exatamente quais objetivos você deve atingir.
Construção das personagens
Planeje detalhadamente os seus personagens e aprofunde suas histórias pessoais. De onde veio sua personagem? Qual é a sua personalidade e são seus anseios? O que ela aprende ao longo na narrativa? Qual é o seu papel na narrativa?
É importante ressaltar que esse planejamento faz parte do processo de construção do personagem, mas não será necessariamente incorporado totalmente ao texto final. Essa é uma etapa que serve para pautar suas ações e emoções ao longo da trama e é a base para que você possa criar personagens inesquecíveis por conta de sua coerência e complexidade.
Cenário
O cenário de um romance histórico certamente não será o mesmo de uma ficção científica e exige um tipo diferente de pesquisa. Imagine os principais ambientes pelos quais seus personagens poderão transitar.
A criação de um cenário demanda um bom conhecimento de seu tema, gênero narrativo e bastante trabalho imaginativo. Criar e descrever detalhes desse cenário, deixando-o o mais coerente possível, torna sua narrativa mais rica e facilitará o desenvolvimento da construção.
O mundo ensina boas técnicas para escrever um livro
“Write what you know”. A frase integra boa parte das listas de conselhos para escritores e se tornou uma regra cardeal da escrita. Porém, o que muitos vêm ressaltando é que “o que você conhece” não se limita a suas experiências mais imediatas.
O que você conhece inclui, principalmente, suas experiências afetivas, mas que podem — e devem! — englobar o que você observa no mundo, seus personagens preferidos, a vivência de outras pessoas etc.
Em suma, o que você conhece precisa ser expandido! Escreva sobre o que você conhece, mas nunca deixe de conhecer coisas novas.
Para um escritor tudo pode ser material de escrita. Por isso, tenha sempre um caderno à mão para anotar novas ideias e situações inspiradoras. As melhores ideias e soluções, afinal, surgem quando menos estamos esperando por elas.
Sabe aquele seu amigo que adora ler ou mesmo aquele seu colega que também está pensando em começar a escrever um romance? Ele pode ensinar muito comentando seu primeiro rascunho. Não tenha medo de pedir conselhos as pessoas mais próximas. Você pode estar tão imerso no seu enredo que não percebe as incoerências e possíveis descontinuidades da sua história.
A rotina é a sua melhor amiga
Alguns romances notáveis foram escritos, surpreendentemente, em poucos dias. O que aprendemos com a maioria dos grandes escritores, entretanto, é a não confiar em uma semana super produtiva apenas contando com bons momentos de inspiração.
Pode parecer clichê, mas aquela porcentagem do 1% de inspiração e 99% de trabalho duro continua valendo na hora de escrever um romance e. para isso, é preciso de rotina.
Stephen King em seu livro Sobre a Escrita diz que tudo que você precisa é uma porta que você possa fechar para cumprir uma meta-diária preestabelecida, bem como Virginia Woolf diz o quanto ter um teto todo seu é fundamental para um escritor. Um espaço próprio — por mais modesta que seja sua mesinha — e uma quantidade de tempo livre em que você possa mergulhar diariamente na sua escrita é o que vai fazer de você um escritor.
James Joyce, Charles Dickens, Ernest Hemingway, Elena Ferrante e Gabriel García Márques além de serem grandes romancistas, todos eles estabeleceram e cumpriram rituais diários para escrever — faça chuva ou faça sol. Se você quer se tornar um escritor precisa começar a descobrir quais são os seus rituais e como você se sente mais confiante ao colocar suas ideias no papel.
Escrever livros de romance não é uma tarefa fácil, porém, dar vida e compartilhar o seu universo imaginário é extremamente gratificante. Com método, dedicação e criatividade, seu romance pode existir e até mesmo ser um grande sucesso.